Por um momento, ela pensou que fosse desmaiar. A mão em sua boca era fria como o gelo, grande o suficiente para lhe deixar sem ar, se pega desprevenida. Mas a pressão logo se afrouxou, e ela pôde se virar e sentir um alívio ao ver Alvüs, O Bondoso, herdeiro dos Mares Gelados do Sul. Entretanto, o alívio deu lugar a uma sensação de preocupação profunda, pois Albüs não costumava se afastar de seus domínios, a não ser que...
- Desculpe o mal jeito, Lyria - ele sussurrou, fazendo-lhe um carinho no rosto - Mas foi difícil chegar até aqui sem me fazer notar.
Albüs era mais alto que Lyria, esguio, porém forte. Tinha cabelos pretos como o céu em noite de inverno, contrastando com a pele quase da cor do gelo dos Mares do Sul.
- Você é sempre bem vindo aqui nas Florestas do Sol, Alteza. Não há porque não ser notado. A menos que...
- Ele está à minha procura, Ninfa.
Lyria sentiu como se o calor que a conectava à floresta e os animais ao seu redor estivesse se esvaindo. Os pequeninos animais que antes rondavam a Fenda, até mesmo os peixes prateados que nela viviam tinham desaparecido, escondidos em algum lugar profundo. Ela se obrigou a respirar pausadamente, antes de perguntar:
- Como?
Albüs olhou ao redor, como se conferisse se a ausência de seres na floresta pudesse não ser completa.
- O Coração de Cristal - disse ele, retirando de dentro das vestes um pingente, que àquela altura, estava escarlate. Lyria colocou as mãos sobre a boca, contendo um grito. O Coração de Cristal deveria estar transparente. A mudança para a cor vermelha só havia acontecido há mais de um século - Eu estava patrulhando as Montanhas Divisórias quando meu peito ardeu e eu vi a mudança da cor. Isso só pode significar que ele escapou, sabe-se lá como, Lyria. E sinto a cada instante que a sua aproximação vem crescendo gradativamente.
Lyria fechou os olhos, apertando as pálpebras o mais forte possível, pretendendo clarear as ideias. Fazia mais de um século... Desde então, tudo corria na mais perfeita harmonia. As Florestas, Os Mares, As Montanhas e Os Desertos estavam protegidos pela magia dos Seres de Luz, dos quais ela (e, em breve, Albüs) fazia parte. Albüs se tornaria um dos Seres de Luz com a passagem de seu pai para o Reino dos Espíritos, mas a sua importância para o equilíbrio do mundo se fizera imensa desde o momento em que fora o responsável pela captura do único Ser capaz de fazer o Coração de Cristal pulsar na cor escarlate.
Ela abriu os olhos, e viu que Albüs a encarava, com seus olhos violeta. Sorrindo, Lyria sacudiu os cabelos prateados, como um animal recém-saído das águas de um rio.
- Acho que chegou a hora de você, finalmente, fazer uma visita à minha casa, Alteza.
- Achei que eu já estivesse fazendo isso - ele respondeu, olhando ao redor.
Lyria se obrigou a gargalhar, ecoando como um canto pela Floresta do Sol.
- Você não acha que eu vivo no meio das matas ou durmo nos galhos das árvores, não é? ... Ah, não, você acha mesmo isso...! Venha comigo.
Entrando nas águas azuis da Fenda, ela puxou Albüs para dentro e, quando ele se achava coberto até os ombros, mergulhou, levando- o para baixo, cada vez mais para baixo nas profundezas escuras.
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| Fonte: http://contosdefadadiferente.comunidades.net Coloração por Bia de Souza. |
