quinta-feira, 8 de março de 2018
8 (ou Infinito)
Hoje, me olhei no espelho e gostei do que vi. Os olhos, que por muitos dias se anuviavam, deram espaço para dois pequenos sóis. As bochechas, outrora grandes e coradas, que agora encovavam a face como numa encenação de Morte e Vida Severina, hoje estavam ligeiramente mais protuberantes. Meus cabelos, longos e brilhantes, que há algumas semanas sentiram o leve peso da tesoura a lhes picotarem num momento de solidão, estavam daquela cor ruiva que só se fazia ver quando se aproximava a primavera.
Observei os ossos em pontos da cintura, as saboneteiras salientes que até pouco tempo jamais couberam nenhum sabonete, a tatuagem de dragão que agora parecia adormecido, a boca avermelhada e carnuda que permanecera bela. Eu me sentia bem.
Hoje era meu dia. Eu não havia recebido flores, chocolates, presentes ou abraços. Não recebi visita de um amor, não ouvi elogios vindos das ruas, tampouco fui marcada numa publicação com foto feliz. Não me disseram que eu era linda, que merecia o mundo, que tudo ficaria bem e que os maus momentos passariam. Não recebi convites para jantar, para ir ao cinema ou para passar o dia ouvindo música na jukebox do antigo bar da esquina. Ainda assim, hoje era o meu dia, e eu me olhei no espelho e gostei do que vi.
Eu vi o futuro. Em cada marca, em cada lágrima, em cada curva e curvatura, ali estava o meu ontem, o meu hoje e o meu amanhã. Mais uma primavera que floria a esperança infinita de ser, com orgulho, minha maior fã.
Passei meu batom mais bonito e, sorrindo de canto a canto, me beijei. 🔴⚫⏺️
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