De novo. Aquela suadeira, o tremor no estômago, a vontade de colocar as tripas para fora e o remédio para dentro. Ele sabia que não seria fácil controlar. Não agora, depois de tanto tempo de tranquilidade, tempo que ele pensara se prolongar para a semente, ou ao menos por mais algumas semanas.
Não depois dela.
Ela havia voltado. Não avisou ou pediu licença. Não fingiu meias verdades ou colocou panos quentes. Chegou como quem vendaveia, revirando tudo, inclusive o seu estômago. Trazia consigo o frio do suor pingante da cabeça, que descia pela espinha e findava acima do cóccix. Sentou-se na poltrona da sala, tomando conta do ambiente e fazendo-o achar que o local sempre fora dela. Sempre dela e de mais ninguém.
Ele não conseguiria mais segurar. Com a boca já inserida dentro do vaso, desobstruiu a garganta por cinco minutos, suficientes para dominar o ambiente com um odor ocre e cheio de medo. Não, ele não era forte como diziam, nem mesmo aguentava os trancos, como espalhavam. Seu signo não significava nada, a não ser que ele gostaria de não ter nascido nas férias e no horário de verão. Nenhum feliz aniversário de amigos ou festinhas na escola. Apenas a solidão estridente de um já compreendido fracasso.
Quando conseguiu respirar sem ânsia, botou a cápsula guela abaixo sem ajuda de água ou refrigerante. Pelo menos assim pretendia ter forças para olhá-la antes de sair.
Após o que diriam ser horas de relógio, ele a viu, ainda altiva, sentada na poltrona da sala e dominando o seu mundo particular. Sem dizer palavra, abriu a porta e se colocou para fora. Então, como se pensasse nisso pela primeira vez, tornou a voltar e encará-la, de fato. Com um gesto simples, convidou-a a ir consigo.
Dessa vez, sem vendavais, ela o acompanhou, fazendo-o tremular, mas resistir. Um passo de cada vez, pensou, olhando o celular e respondendo uma mensagem de alguém cujos sentimentos ele gostaria muito de corresponder.
Um passo de cada vez.
Ao entrar no elevador, sentiu-se comprimido pela presença dela, mas respirando fundo, apertou o botão do térreo. Era melhor tê-la por perto e sob controle do que, dominatrix que era, ocupando o seu sofá.
- Bia
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