sexta-feira, 5 de julho de 2019

A criação de diálogos da Senhorita Rolff para Cineastas Peculiares

Se você está acessando este artigo através do vídeo do nosso canal no youtube, já deve estar super curioso, afinal de contas, você deve ter ficado sem fala, não é mesmo? (risos) Mas se você se encontra com a gente aqui direto pelo blog ou por outros meios, a ordem dos fatores não altera o produto. Então vamos dialogar!

Enrolados


Estamos aqui para falar de diálogos, uma das peças mais importantes (e mais difíceis!) de se construir quando pensamos em filmes, seriados, novelas, ou mesmo aquela história incrível que estamos escrevendo para lançar na próxima bienal do livro. Mas vamos nos ater aos meios audiovisuais, porque a questão aqui gira justamente em torno desse termo: au-dio-vi-su-al.

Quando criamos um roteiro, temos em mente que aquela história está sendo desenvolvida para ser VISTA e OUVIDA. E é justamente por isso que os diálogos muitas vezes se tornam um problemão. Okay, estamos ali, com o roteiro na mão, fazendo uma leitura de reconhecimento da história, passamos pelas cenas, lemos os diálogos, tudo na mais perfeita ordem...

Até que resolvemos ler o roteiro em voz alta.

Aí a coisa vira uma confusão. Já deve ter acontecido com você de ler uma determinada fala de um personagem e pensar "nossa, mas ninguém fala desse jeito". Ou pior: você ASSISTIU a um filme e viu um ator falando alguma coisa de uma forma tão estranha que a sua atenção se deslocou para a parte negativa do filme, e não para a fruição dele como um todo. Todas essas situações dizem respeito à construção de diálogos.

Sleepy Hollow


A grande dificuldade que temos ao construir falas para personagens está em diferenciarmos o tipo de escrita e o tipo de pesquisa necessárias para o momento em que os criamos. Pensando nisso e querendo sempre ajudá-los na grande saga que é enveredar pelo universo audiovisual, let's talk about talking.

Tipo de Escrita

Já falamos em um artigo anterior aqui no blog que o roteiro é uma peça objetiva, que visa descrever situações que serão encenadas e vistas em algum tipo de tela. A criação da mise-èn-scene (o que acontece na cena) pressupõe um tipo de escrita que foge de subjetividades, focando efetivamente nas ações dos personagens. Até aqui tudo certo? Claro, porque você já leu o nosso artigo e entendeu todas as dicas que demos! Porém, entre as possíveis ações de um personagem, está a sua fala. E escrever a fala de alguém pressupõe que você esteja lidando com pessoas... e pessoas diferentes falam de formas... advinha? Diferentes. Portanto, o primeiro ponto que temos que ter em mente é que os diálogos não são mais descrições objetivas do que acontece nas cenas, mas estão (devem!) conter uma série de subjetividades inerentes a cada um dos personagens. O que nos leva direto ao segundo ponto!

Tipo de Pesquisa

Uma das primeiras etapas de escrita de uma história está na construção dos personagens. Quem são, onde vivem, quais suas preferências, com o quê trabalham, de quê tem medo, como falam? Parece um documentário do Globo Repórter, eu sei. Além disso, também decidimos qual o gênero da nossa narrativa, o aspecto espaço-temporal da história (onde e quando ela se passa?). Essas são algumas perguntinhas que nos fazemos ao desenvolvermos uma história. E são estas pesquisas que refletirão posteriormente quando formos desenvolver as falas de cada personagem. Pensa aqui com a gente: Se estamos lidando com uma história que se passa na década de 1930, e o nosso protagonista é um malandro, que vive em um cortiço caindo aos pedaços, mas que finge ser um milhonário para aplicar golpes em moças desavisadas, com certeza ele não falará da mesma maneira que um herdeiro de um reino futurista, que é obrigado a entrar para as forças do exército de seu pai se quiser salvar seu povo de um ataque vindo de além-mar.

Portanto, o modo como escrevemos os diálogos está intrinsecamente ligado aos aspectos particulares da nossa história e subjetivos dos nossos personagens. Lembre-se: o roteiro com um todo deve ser objetivo, mas há espaço para a subjetividade nos diálogos. É isso que os diferencia e diferencia um bom escritor. Afinal, são seres tão peculiares quanto suas criações. ;)

O Lar das Crianças Peculiares


Ah! E para quem notou a peculiaridade do nosso vídeo do youtube, vamos acrescentar aqui um pontinho: os diálogos não surgiram apenas no cinema falado. O cinema mudo também sempre possuiu falas e diálogos. Entretanto, a sua construção se aproxima muito mais de uma explicação através da legendagem do que um trabalho mais voltado às peculiaridades dos personagens. Basta lembrarmos das placas entre uma cena e outra, em uma tela preta... E viva Chaplin, viva Buster Keaton e todos esses mestres do Cinema!



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