segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Lar


Meus olhos se fazem amor
Ao olhar os seus e amor perceber
Por a cada segundo notar em suas íris
Um tempo infinito que a mim pertence

Castanha a cor que colore a minh'alma
Poema visto e por mim captado
Numa objetiva de sujeitos
Dois nós que se enlaçam.

Guiando-me por veredas que se tornam claras
Ao fechar meus olhos quando seus braços 
Em mim rodeiam, encontro abrigo e calor
Para minha pele branca em gelo

Pois na janela da alma
Defenestro-me para dentro
De um corpo seu
Que se faz meu completo recanto.

- FdLind

http://lagartaechapeleiro.blogspot.com.br/2012/06/janelas-quadradas.html




terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Meditação Literária



Creio nos livros, todos Poderosos,
Criadores das mais belas obras humanas,
E em seus pais, magníficos e mágicos, nossos Autores!
Os livros foram concebidos pelo poder da imaginação,
Nasceram de nossas escolhas,
Não padecem jamais, frente a nenhuma adversidade.
São muitas vezes crucificados, julgados e calejados (mas isso faz parte!)
Desceram para atingir a todos que queiram ler
Ressucitam a cada dia!
Subiram ao Céu Literário.
Estão assentados nas mais belas estantes das bibliotecas do Saber,
Donde hão de vir a servir a novatos e veteranos.
Creio na Literatura,
Na Santa Criatividade,
Na comunhão de ideias,
Na remissão dos pecados linguísticos,
Na ressurreição das ideias,
Na Vida Eterna...

Amém.



- Bia

Imagem: http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/1594155/gd/134283653622/um-livro-aberto.jpg

Exemplar



Ela pensava na vida. Parada à frente da TV sem som, ela pensava em todas as coisas pelas quais já tinha passado nesses poucos, mas duros, anos de existência. E mais, pensava no lhe aguardaria na virada da próxima esquina.

Tinha sido uma garota exemplar. Um exemplo de tudo aquilo que é condenado e abominado pela sociedade pré-conceituosa e desprovida de raciocínio. Ela tinha passado pelos piores momentos imagináveis, sempre de cabeça em pé e deixando apenas que seu travesseiro sentisse as lágrimas quentes de seus pequenos olhos azuis. Havia provado o amargo do mundo, sem deixar de expressar palavras doces a cada espinho que lhe atiravam.

Tinha sido forte. Como uma rocha, havia aguentado as tempestades de palavras, os trovões de opiniões, os ventos da discórdia. Permanecera firme, concreta, belamente intacta.

Mas seu espelho interior começava a rachar. Tantas batidas no casco visível de sua pele haviam criado pequenos buracos, imperceptíveis aos olhos nus e crus, mas que aos poucos começavam a deixar a água ardente infiltrar na alma calejada.

Naquele momento, ela não sabia o que fazer. Para onde ir.

O que sentir.

Sentia que a cada alargamento da infiltração, mais vazia se encontrava a sua cápsula de vida.

O futuro não mais lhe pertencia. Nem mesmo um amigo distante poderia considerá-lo. Não o conhecia. Não sabia de sua existência. Ignorava-o como se ignora o que há fora daenossa bela e estrelada galáxia.


Tinha o passado como seu único trunfo. E de mãos dadas com ele, deixou para trás a programação sem sentido da televisão e virou a esquina do desconhecido.



Bia



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Arco-Íris



Sentia tristeza. A chuva que caía dos seus olhos se misturava às lágrimas soltas das nuvens cinzas e grossas de um dia de outono.

Outono... A estação da queda, das folhas secas, do pré-frio que indica o próximo tempo. Ainda era outono e o seu coração se achava mais frio do que lábios de uma Branca de Neve.

A chuva dos olhos lhe molhava o rosto e lhe trazia um gosto quente e salobre, gosto do beijo amargo e da vida seca que a poucos, mas tantos, dias sobrevivera. 

O resto do corpo banhava-se em lágrimas frias de um céu trovejante. Luzes e sons dançavam à sua frente uma coreografia digna de deuses furiosos e igualmente tristes.

Abraçou com destreza os joelhos, cobertos de um jeans surrado e velho, mas que lhe causava calor à lembrança de ter sido um presente. Agora, não mais que um jeans, mas que ainda emanava uma centelha do amor de um passado recente.

Olhou para cima e cegou-se ante o encontro das duas fontes. Lágrimas e chuva formaram um único borrão, lavando sua alma como quem permite-se entrar numa máquina de lavar. Suas íris tornaram-se bolinhas de gude, rolando para dentro daquele corpo cheio de um vazio existencial momentâneo.

E então ela se sentiu menina outra vez. Menina dos olhos, menina dos olhos dourados, que quando o inverno chegasse - a força permitiu-se manifestar em seu peito - tornaria a reluzir como sol daquele entardecer outonal que ela sabia chamar de seu.














- FdLind
Imagem: 
http://witchblue2009.blogspot.com.br/2011/07/mitologia-em-gotasiris-deusa-mensageira.html

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Utopicamente



Bem que meu direito de escolha poderia ir além das fronteiras gravitacionais...
Atingir patamares inimagináveis, planetas inabitados, galáxias distantes.

Eu ficaria contente se pudesse, às vezes, simplesmente sair de férias, com uma passagem extraterrestre, e passar  por um período sem prazo, rodeada de seres verdes e fisicamente estranhos, que não me entendessem nem em gestos. 


Seria muito bom se eu pudesse escolher em que planeta viver, ou até mesmo não escolher planeta nenhum.
Orbitar ao redor deles todos, sem gravidade e sem pressa, apenas deixando-me flutuar no espaço infinito.


Bem que meu direito de escolha poderia ir além das fronteiras gravitacionais... e não apenas ultrapassar a barreira da minha própria imaginação poética.

Imagens: web






- Bia

O Menino e o Mestre



Um menino pequeno e franzino se postou perante seu Mestre, que se encontrava sentado em um banco feito de bambu e folhas marrons, no meio de uma floresta de árvores secas.

Meio sem jeito, disse baixinho:

- Mestre... queria lhe perguntar uma coisa..

E o Mestre, com um sorriso discreto, aguardou.

- Porque sentimos algo que não queremos sentir?

O Mestre o olhou com atenção.

- Não se pode querer controlar tudo. Os sentimentos são uma parte de nós que não controlamos como o resto. Por isso sentimos, e não raciocinamos para isso.

- Mas é possível que passemos a sentir algo que não sentíamos antes? Algo que sempre achamos errado?

O Mestre respondeu calmamente:

- É possível. Porque os sentimentos são imprevisíveis e, como parte de nós, também são mutáveis - e olhando para o pequeno garoto, perguntou com certa curiosidade - Mas porque um menino tão jovem se preocupa com uma questão tão adulta?

E o menino, sem hesitar:

- Porque percebi que penso mais como eles deveriam, e vejo que eles se comportam como eu deveria.

O Mestre então, colocou o menino em seu colo e acariciou seus cabelos arrepiados.

- Esse é mais um mistério da nossa vida, meu pequeno. Ainda que sejamos controlados pela idade que temos, somos pegos de surpresa por uma parte de nós que não se deixa controlar pela idade.

- E o que devemos fazer? - perguntou o menino.

- Por incrível que lhe pareça - disse o Mestre com um suspiro - tentar nos manter sob controle. 

- Mas como controlar o que não tem controle?

O Mestre, então, perdeu-se em pensamentos profundos.

- Muitas vezes, tentar na busca pelo impossível vale mais do que agir pelo que se conseguirá sem esforço. Mas vá brincar, meu pequeno. Não se deixe consumir por questões tão profundas.

- E o que farei quando me sentir errado? - perguntou o garoto, já saindo.

O Mestre sorriu.


- Apenas seja criança. Para você, pequeno, é o que basta.



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- Bia

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Vaga-lume


Meus caminhos se guiam a cada passo meu dado
Iluminados de verde por dois grandes faróis
Que de luz me preenchem, como amor coado
Passado num filtro de finos lençóis

Esse verde é maduro, tão belo, tão forte
E me cobre em calor de grandes proporções
Os meus pés que o chão percorrem
Sem medo se lançam em duas paixões

Paixões tão serenas, e por estes faróis simultâneas
Queimam em meu peito uma luz própria
Que se junta à mais cheirosa macadâmia
Doce perfume que deles me toca

E assim eu caminho, segura nos braços delicados de uma lua crescente
Não azul, mas verde
Amor que em mim se faz fonte... Permanente.


- FdLind

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

(Prólogo)

O calor está de matar...

Ela voltava para casa a pé, suando em bicas e não conseguia deixar de pensar naquela letra de funk que, nos dias de hoje, não poderia ser mais propícia.

Seu telefone tocou e ela o puxou do bolso, limpando as gotículas de suor do visor para poder atendê-lo.

- Alô?

- Quem é?

Ela quase respondeu "Sou eu, Bola de Fogo", mas achou melhor se calar.

- É a Ana. Gostaria de falar com quem?

- Com você mesma, Ana! Aqui é o Beto. Alberto, lá de Paraty. Lembra de mim?

Ela se lembrava perfeitamente. O passeio de escuna, a parada na Praia Vermelha. O mergulho nos corais, o beijo debaixo d'água.

- Oi!!! Nossa... Claro, Beto. Nem pensei que...

- Pois é... Eu queria ter ligado antes, mas confesso que perdi o seu número. Lembra que eu tinha anotado num...

- Guardanapo de papel sujo. Sim, eu me lembro.

Ela riu da lembrança. Um guardanapo com cheiro de camarão com limão.

- Então... Eu meio que o perdi. Ou joguei fora, na verdade. Custei a perceber a burrada, mas então me lembrei que você tinha se hospedado numa pousada próximo do centro e eu meio que consegui seu celular.

O pensamento dela estava em Paraty, algumas semanas antes. Ela estava a passeio, com algumas amigas próximas. Não tinha intenção alguma de se envolver com ninguém, mas como sempre acontecia de o acaso ser maior e mais marcante em sua vida...

- Mas e você, Beto? Está tudo bem?

- Agora estou ótimo, que consegui falar com você. Você está em Minas? BH?

- Estou sim. Derretendo.

Ela percebeu que havia parado no meio de uma praça, e o sol do meio dia lhe torrava os miolos. Passando as costas da mão sobre a testa, ela se encaminhou para um banco debaixo de uma árvore e se sentou.

- ... sempre um inferno. Mas, que bom que está em BH. Bem, é que, coincidência ou não, uns amigos estão indo visitar os pais e eu pensei que, talvez...

- Quando é que você vem? - ela se pegou falando, as palavras escapando de sua boca mais rápido do que ela conseguia controlar. Ouviu a risada - aquela risada gostosa e gutural - de Beto do outro lado da linha.

- Daqui a dois dias... Seria incômodo se pudéssemos nos encontrar?

Ela sorriu e soltou um grito silencioso, mímico, que fez uma mãe e uma criança de uns cinco anos a olharem com olhos reprovadores e curiosos, respectivamente.

- Não. Eu adoraria.

(continua...)
*** 

- Bia


In(consciente)

Ele estava deitado, olhando para o teto. Já nem mais o via, tamanha era a sua identificação com ele, nesses últimos dias. Olhava-o fixamente, sem vê-lo realmente, deixando o pensamento vagar para outros lugares.


Para ela.

Por mais que tentasse, não conseguia explicar para si mesmo aquilo que passara a sentir por aquela garota. De repente, ela simplesmente estava ali, presente em sua vida e ele não conseguia entender nem mesmo de que lugar ela havia saído.

Provavelmente, de um conto de fadas sombrio, pensou ele com um ligeiro sorriso. Aqueles olhos cor de mel, enormes e expressivos, o cabelo longo, ondulado e com as pontas descoloridas e o batom constantemente da cor roxa não caberiam em uma história da Barbie. Não, ela era diferente...

Diferente.

E, mesmo assim, ele não conseguia conter seus instintos. Sentia-se atraído por inúmeras outras mulheres (algumas nem poderia chamar de "mulher". Eram apenas meninas...), relacionava-se com essas tantas outras, sentindo-se pleno, extasiado em sua masculinidade e potencial. Era como exemplificar a função de um ímã: ele se via atraído perdidamente pelos polos opostos, e via-se grudando a eles de um jeito instintivo e natural, sem que houvesse qualquer explicação plausível, salvo a própria natureza das coisas.

O que o deixava perdido e sem chão era que, sempre que deitava em sua cama, não conseguia de forma alguma dormir o sono dos justos, pois tudo o que fazia era ver aqueles enormes olhos de mel encarando-o, zombeteiros e simplesmente lindos.

Talvez, ele não dormisse o sono dos justos porque tudo o que fazia era de extrema injustiça, ele agora pensava. Mas injustiça para quem? Ele não conseguia pensar que suas atitudes pudessem ser consideradas erradas. Vivia em um mundo que se dizia livre de preconceitos, e gostava de ser livre, sem amarras. Além disso, ninguém sabia de nenhuma de suas aventuras. Ele não contava a ninguém, fazia tudo consigo e para si mesmo.

Parecia, porém, que ele era o único que vinha se afetando diretamente com as próprias ações. Naquela noite, ele pensava em como aqueles lábios cor de uva eram os mais macios que já provara, e em como aquela pele alva, macia, arrepiava-se com mera menção de um toque. Tudo nela era naturalmente belo, sem esforços desnecessários e com a pureza de uma garota que aos poucos se descobria mulher. Notava, pelo que indicava seu inconsciente, que essas descobertas afetavam a ele também. Uma mudança no seu status de menino para homem. Ou seria o contrário?

Ele viu a luz do seu notebook piscar, seguida do som característico de uma nova notificação.  Uma de suas conquistas recentes acabava de chamá-lo pelo chat, elogiando-o pelas últimas fotos que postara. No mesmo instante, o frio na barriga característico de todas as vezes em que pressentia um provável encontro o assomara, e ele retribuiu a ela o elogio. Conversaram coisas inúteis por alguns instantes, até que o papo tornou-se quente, e ela lhe disse que o visitaria, naquela noite.

Ele sorriu no escuro do quarto, digitando-lhe que a aguardava. Sabia que teria uma noite extremamente prazerosa, como foram as últimas duas.

Sabia, também, que ela não dormiria lá, nem mesmo usariam a cama dele. Ele sabia, com a sensação de quem leva um soco no estômago, que ao deitar naquela cama, tudo o que veria seriam olhos cor de mel e bocas de uva.



E isso era uma das tantas coisas que apenas ele tinha conhecimento.



- Bia

Imagens: tumblr

Bela


Era Bela.
De uma beleza estonteante, de parar o mundo.
Era assim, e dela emanava a beleza de ser feliz.
Mas não só bela se fazia, corpo esbelto e juvenil.
Era animal.
Tinha nos olhos a destreza de um passarinho, a esperteza de uma pequena raposa,
A inteligência de uma coruja branca.
O amor de uma loba ao luar.
Era Bela... 
Sentimentalmente forte, repleta de trejeitos e jeitos próprios,
Uma beldade de alma!
Daquelas raras, encontráveis nos mais altos picos do mundo,
Onde apenas os merecedores de tamanha dádiva alcançam com fervor.
Era Bela.
E por bela ser,
Merecia toda a beleza do mundo.

- Bia


http://www.zdjecia.biz.pl/zdjecia/duze/oszroniona-roza-1.jpeg

 

Ol-fato




O cheiro da chuva entra pelo meu nariz e vai se ramificando por todos os meus poros, minhas veias, minhas células, como se capaz fosse de me fazer florescer.


O cheiro de terra molhada me inebria e me hipnotiza, como um pêndulo mágico dos mais eficazes, daqueles dos mais renomados encantadores, repletos de magia e misticismo.


Mas não há terra molhada. A chuva cai sobre o asfalto quente, 30 graus de pura civilização, fazendo a fumaça branca subir pelos ares, formando desenhos tortos e sem sentido.


Estranhamente, o cheiro permanece. Como se tudo cheirasse a terra molhada, lembrando-nos que a terra construída nada mais é do que terra originária modificada.


Agora, a chuva cessa e o vento refresca o ambiente. O calor infernal de há poucos segundos se abranda lentamente, deixando espaço para que a respiração volte a funcionar com perfeição.


E voltando a respirar, percebo ainda mais forte o cheiro de terra molhada, inundando-me por inteiro, como numa verdadeira tempestade tropical.

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Sexy Boca

A minha boca anda tarada por uma mordida.
Por um toque suave, aveludado e cremoso
Um chupão gostoso, de fazer salivar.
Fica pensando, sozinha, suspirando
Esperando o momento para um bote bem dado
Dar.
Ela quer um momento, um só momento
De prazer infinito, memorável
Cheio de tesão
O clímax perfeito, repleto de despudor
Lambendo os lábios com
Satisfação.

A minha boca anda louca por um

Chocolate.

Beleza?


Beleza: Termo mais relativo e pré-conceituoso.
Estabelecer algo como belo ou não passa necessariamente pelas subjetividades e múltiplas opiniões de cada um.

Num mundo tão fútil, cheio de vazios e recheios de ar, endender algo como dotado de beleza pode ser tão perigoso como uma bomba atômica!
Não. Sou mais racional e extremista.
Acho que a Beleza é como um "bem de uso comum do povo" e de tudo o mais.

Geral. Generalizada.

Bela é a flor em botão, que nem mesmo desabrochou e fica no aguardo de uma chuva fina, de um sol quentinho e de muita fotossíntese para resplandescer. Mas também é bela a flor já sem vida, caída no solo, esperando o vento a ela varrer.

Belo é o livro novo, com cheiro de plástico, esperando pelo primeiro ávido leitor. E belo é também o livro rasgado, surrado e sem capa, que já foi útil a tantas mentes e olhos famintos.

Bela é a menina fotogênica, de rosto e de corpo, que se mostra e agrada nas redes sociais. E tão bela quanto é aquela que prefere ao invés de seu corpo, mostrar a beleza de seu pensamento, sem medo de errar.

Belo é o barulho do sino dos ventos, que nos permite meditar até em meio ao caos de uma cidade grande. E quem haveria de negar beleza à poluição sonora, visual e olfativa, se é nela que a maioria de nós encontra moradia?

Belo é o moço galã, bem sucedido, que aparece em comerciais de pasta de dente. E belo é o menino que prefere dar de comer àqueles que mal tem condições de pensar no que é beleza.

Bela é a poesia rimada, em soneto e métrica intocável, arte de poucos e feita para apreciação geral. Ora, se não é bela a escrita sem gramática correta, sem firulas linguísticas, e que atinge até mais do que tão bela criação poética?

Belo é o amor, sentimento por tantos falado, sentido, cultivado. E belo é, pois, o ódio, que permite - apenas a título exemplificativo! - uma série de escritos fantásticos, filmes e documentários, e até mesmo a percepção do que é, consequentemente, o amor!

Ah! Fácil dizer que bela mesmo é a Vida! Pois é nela que se verifica tudo aqui antes comentado. Mas vejo uma beleza delicada na morte... Uma beleza fúnebre, quieta e até mesmo misteriosa. Como se ela nos dissesse que sem a sua certeza, não pensaríamos em fazer muitas das coisas boas e belas que praticamos todos os dias, mesmo sem perceber.
Por isso, generalizo a beleza e renego quem diga o contrário!

Somos Beleza, emanamos gostosuras e travessuras repletas de lindas nuances.

Deixemos de lado a pieguice e os clichês e passemos a curtir aquilo que temos de melhor, que somos nós mesmos, tão mundanamente.


Beleza?

- Bia 

Imagens: web

Bonequinha de Luxo


A poltrona estava afundando. Sempre afundava mais para a esquerda do que para a direita. Com os pés descalços sobre o estofado, ela balançava o corpo suavemente, num ritmo constante e monótono. Sempre balançava assim.

Betânia se achava aninhada em seus braços. Bonequinha ruiva, olhinhos pequenos, um azul, outro preto. De caneta Bic. Era uma bonequinha boa, ela dizia. Cheia de vontades que só, mas boa. Obedecia depois de três insistências. Sempre após a terceira.

Ela, hoje, estava mais quieta. Olhava Betânia de soslaio, meio receosa. Balançava-se suave, e olhava para o outro lado. Para o mundo. Ela o via, com olhos curiosamente entediados. Sempre entediados. 
Mas nunca viam o mundo.

Demorou instantes eternos para retornar a Betânia. O balanço do corpo se fazia constante, enquanto ela acariciava de leve os cabelinhos cor de fogo da bonequinha. Sempre tão lindos.

Num só movimento, a cabecinha de Betânia rolou pelo chão, parando apenas ao encontrar a parede oposta à poltrona. Ela olhou-a sem tempo, como se pensasse em pegá-la de volta, e tornou a encarar o mundo. Um corpo sem cabeça era muito chato.



Sempre soube disso.



- Bia

Mark Ryden

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Como fumaça

Estava atrasada para a faculdade. Como conseguia não levantar com o som gritante do despertador de seu celular?! Já há muito tempo colocara como toque "Blinded in Chains", do Avenged Sevenfold, pois esperava que o bum inusitado da bateria logo nos primeiros acordes da música fossem capazes de jogá-la para fora da cama.

Mas lá estava ela, atrasada, suada e cheia de livros nas mãos. Odiava sair de casa sem tomar pelo menos uma ducha. Sentia-se suja - como de fato estava - e imaginava que todos soubessem que ela não havia tomado banho, ainda que seu último tivesse sido antes de dormir. Tinha TOC por limpeza pessoal.

O ponto de ônibus era a três quadras da sua casa. Duvidava que conseguiria chegar até lá a tempo de pegar o ônibus das seis e meia. Como se odiava por não conseguir levantar como uma pessoa normal! Apertou o passo e seguiu adiante, sem olhar para os lados, sonhando com um atraso inesperado do lotação.

Enquanto andava, ia revisando o trabalho que teria para apresentar. "O termo Cultura possui inúmeras concepções, dentre as quais engloba as diversas manifestações artísticas, folclóricas,  étnicas, inclusive educacionais, contidas em uma sociedade, como um conjunto de ideias, tradições e modos de vida, que são demonstra..."

Faltando menos de meia quadra, o ônibus entra na rua. E foi como se tudo fosse captado em slow motion:
Ela começou a correr, enquanto não perdia de vista o automóvel que estacionava. Atravessou a rua em disparada, sem notar a Ninja que se aproximava mais rápido do que o vento. Tudo o que ouviu foi um zumbido próximo e uma forte dor se apoderou de suas costas. Depois, o mundo caiu vertiginosamente e foi tomado pela escuridão da morte.



*-*-*

Morrer.
Se a morte fosse mesmo assim, nada do que diziam era verdade. Tudo estava escuro. Não havia luz no fim do túnel. Aliás, esse papo de túnel era furada. Ela não conseguia nem ver um palmo à sua frente. Tanto poderia haver um túnel, como um matagal, uma praia ou um desfile de escola de samba. No meio daquele  eclipse total, ela nem mesmo conseguia saber se estava mesmo ali, ou apenas sonhando um sonho dolorido e...preto.

A dor... agora ela sentia. Podia perceber que estava machucada, mas não podia dizer o quanto. Foi então que tomou consciência de que não poderia estar morta. Não. Na morte, não havia dor. Nada de purgatório,  umbral, ou essas besteiras. Ela não acreditava. Não havia dor depois da morte e isso era para ela seu maior consolo. E se conseguia perceber o corpo latejando, era porque ainda permanecia viva... sabe-se lá porquê.

Como que por mágica, a luz foi penetrando em seus olhos e aos poucos o silêncio do eclipse foi sendo substituído por vozes, bem ao longe, e um vulto foi tomando forma à sua frente. Seus olhos estavam embaçados, e ela percebia que havia lágrimas ainda molhadas nos cantos e em suas bochechas. Ia levando a mão aos olhos, mas algo tocou seu rosto mais rápido. Eram dedos. Delicados, macios. Eles limparam suavemente seus olhos e aos poucos o vulto à sua frente foi se tornando mais nítido. 

Era um rapaz de cabelos loiro-acobreados. Parecia um pouco mais velho que ela. Seus olhos ardiam de preocupação, isso ela conseguia perceber em meio ao caos em que se achava. E esses olhos... Tinham uma tonalidade arroxeada que ela imaginava que só Elizabeth Taylor poderia ter. Então ele perguntou, a voz trêmula:

- Olá... Você esta bem? Qual o seu nome..? Consegue me ouvir?
- Oi...Sim...Manue..lla...Sim... - ela disse, sem saber se ele entenderia que ela acabava de responder a todas as perguntas, prontamente, em ordem.
- Bem.. Menos mal. Consegue se mexer? Tenho a impressão de ter quebrado você ao meio... Perdoe-me, eu... Só não queria..
- Tudo bem... - Manuella o interrompeu, achando aquelas explicações desnecessárias - Estou bem... Ai!
Pensando bem, era como se um rolo compressor houvesse passado por sua cintura.
- Acho que... preciso de ajuda para levantar... Mas, ei... Quem é você...?
Ela sentiu que algo passava gentilmente por suas costas e a erguia com cuidado. A dor não estava mais tão forte, mas suas pernas estavam começando a ter câimbras. Ele a colocou sentada, ainda com as mãos apoiando suas costas. Mesmo agachado, ele parecia alto. Soltando um suspiro que parecia de alívio ele disse:
- Helel. Meu nome é Helel.



Então, ele se chamava Helel. Um nome diferente, peculiar, para não dizer o nome mais esquisito que Manuella já havia escutado em toda sua vida. Mas por outro lado, em meio às lágrimas e à dor, Helel parecia um dos homens mais bonitos que ela já havia visto.

Era loiro. E isso, sim, era estranho. Tinha uma certa tendência a gostar de morenos, simplesmente por achar que loiros não tinham muita graça. Seus cabelos aguados nem a faziam sentir borboletas no estômago.

Piscando com mais intensidade, para retirar os últimpos vestígios lacrimosos dos olhos, Manuella conseguiu dizer:

- Bem... Acho que devo lhe agradecer. Você parece ter salvo minha vida. Obrigada.

- É, eu realmente salvei você - disse Helel, ainda apoiando-a pela cintura - Mas parte da culpa por você estar assim é minha, também.

- Oi? Como é? - Manuella o encarou, achando que ele provavelmente tivesse batido com a cabeça mais forte do que ela.

- Se não fosse por eu ter entrado tão rápido na rua, você não teria se acidentado.

Encarando-o ela estava, encarando-o ela permaneceu. A única forma de suas palavras fazerem sentido era Helel ser o motorista da Ninja, mas se ele estivesse dirigindo, não conseguiria salvá-la sem se matar.

A história ficava sem sentido do mesmo jeito.

- Olha, Helel, não sei bem se enten...

Mas ela não conseguiu terminar a frase, pois nesse momento, uma ambulância chegava ao local para socorrê-la.

- Menina! O que faz de pé!? - uma socorrista exclamou, olhando furiosa para Helel - Foi você?!

- Ela está bem - Helel disse, e Manuella não soube explicar, mas a socorrista pareceu acreditar no que ele dizia.

- Ainda assim, vamos levá-la.

- Estou bem - Manuella concordou - Acho que se eu for para casa e me deitar, vou melhorar bem rápido (Adeus trabalho de faculdade, mesmo...).

- Eu fico com ela, se ela permitir - Helel disse, e para sua própria surpresa, Manuella se viu assentindo.

- Nesse caso, dou-lhes uma carona até lá - disse a socorrista, já os empurrando para dentro da ambulância.

Olhando rapidamente ao redor, Manuella não conseguiu visualizar a Ninja em lugar nenhum.

Enquanto faziam o pequeno percurso até o prédio de Manuella, a socorrista e mais um enfermeiro fizeram uma checagem na garota, para verem se estava mesmo tudo bem. Estranhamente, tudo o que Manuela sentia era dor de cabeça e um pequeno incômodo na região lombar.

É. Ela era forte.

Ao chegar em seu apartamento, foi amparada pela socorrista e por Helel, que abriu a porta (como ele conseguira a chave?) e a colocou em sua cama. Seus livros também foram colocados em sua estante, delicadamente, o que ela muito agradecia. Depois de fazer um milhão de recomendações as quais Manuella sequer ouviu, a socorrista foi embora, deixando-a apenas com seu mais novo conhecido.

E, então, o silêncio. "Um silêncio em três partes", pensou ela, lembrando-se dos livros de Patrick Rothfuss. Ela riu, percebendo que não tinha sido uma boa ideia.

- Aaai! - ela exclamou, colocando as mãos nos quadris.

- Rir não é o melhor remédio, garanto - Helel disse com um sorrisinho, encaminhando-se para a janela.

Ele permaneceu ali por instantes infinitos, até que Manuella não aguentou mais.

- Está com medo de algo? Não acho que meu atropelador consiga chegar ao décimo segundo andar.

Ele a olhou surpreso, como se a visse pela primeira vez.

- Nunca duvide... Mas não, eu estava apenas conferindo a movimentação. Você deu sorte de não ter muita gente nas ruas a essa hora. Seria muito irritante ser importunada nessa situação.

- Dei sorte? Creio que dei muito azar. Nesse horário, nem pessoas nem carros aglomeram as ruas. Mesmo assim, consegui ser atropela...aaaaiiii!

Helel estava apertando os dedos contra a têmpora de Manuella, atitude que ela não entendia, e que doía muito.

- Pare com isso! Já! - ela exclamou, tentando - em vão - tirar as mãos dele de sua cabeça - Isso DÓI!

- Calma, você deveria relaxar... Só estou fazendo uma massagem que aprendi há muitos anos... Você vai ver, ficará bem melhor em alguns minutos.

Ainda contrariada, Manuella deixou-se levar pela massagem dolorida de Helel e fechou os olhos. Não acreditava na reviravolta do seu dia. Num momento, estava preocupada com o trabalho que teria para apresentar. No outro, estava preocupada em não deixar que um desconhecido a deixasse com sequelas na cabeça.

A vida é mesmo louca, pensou.

E Helel até que não tinha as mãos tão pesadas quanto achara a princípio.

Ele a salvara... E estava lhe fazendo massagem... Afinal, tinha que ser alguém legal... Ainda que com nome estranho...

...




Manuella acordou com o quarto numa penumbra só. Tateando à procura do abajur, encontrou o interruptor e o acionou. Seu quarto parecia um ambiente de filme de terror: escuro, frio, deserto...

Helel.

Ele não estava lá.

Levantando-se com cuidado, Manuella percebeu que não sentia mais tantas dores pelo corpo. Se aquilo tinha sido efeito da massagem de Helel, meu Deus, ela queria aquilo todos os dias!

Encaminhou-se até a cômoda e olhou as horas. Neste instante, o relógio badalou: seis da tarde.

Ela havia dormido por quase doze horas. Isso era mais assustador do que ser atropelada.

Foi então que ela viu sua pequena bandeja de inox em um canto da cômoda. Em cima dela, açúcar, um saquinho de chá de erva doce e uma chávena com água quente. Havia um papel dobrado por cima do açucareiro.

"Relaxe... Se acha que tem azar, creio que tenho muita sorte. H."


E da mesma forma como havia surgido, ele se ia.


Como fumaça.



Imagens: web


- Bia

Antítese Sintética

Imagem: tumblr

Me dispo num corpo coberto
Desfoco meus olhos em direção

Recrio o incriável
Refaço o infazível
Reconto o incontável
Renasço do inascível

Canto em silêncio
Vejo dormindo
Sorrio com seriedade
Choro sorrindo

Vivo morrendo uma morte vívida
E sinto sensações numa pele em anestesia
Morro vivendo uma vida mortífera
Acordo sonhando uma realidade
Surrealista


- FdLind

Éramos nós.
Cegos.

- FdLind

Coragem


Respirou fundo...
E num jorro constante, começou a palavrear:

- Você... Desde muito tempo tem iluminado meus dias,
ainda que tudo o que eu visse pela frente fossem as nuvens cinzas de um dia chuvoso.
O seu jeito de andar displicente, como se o mundo fosse tão simples quanto andar pela calçada e sentir a brisa balançar suavemente seus cabelos, me deixam sem ar...
Porque deixo para você todo o ar desse mundo.
E seu sorriso... Ah, o sorriso...
Grande e misterioso, tão cheio de si e ao mesmo tempo tão tímido.
Quando você sorri, forço-me a sorrir contigo, porque me pego pensando na felicidade que sinto ao ver surgir dois buraquinhos em suas bochechas.
O seu jeito de falar, de se vestir, de rir de coisas que não consigo entender são tão simples e tão importantes para mim!
Você é uma Poesia em forma de gente..
Belo e Subjetivo como só a subjetividade poética pode ser bela.
Menino Grande... e Rapaz Pequenino...
Juntando tudo em um só corpo e me fazendo suspirar só de pensar...
E me pego pensando nos sonhos e sonhando acordada com o cheiro suave do seu perfume
Quase como se o cheiro já me pertencesse o me fosse indispensável.
Como acho que é, realmente.
Talvez, depois de todo esse tempo observando e criando para mim uma fantasia na qual eu guardava você, eu tenha criado coragem para dizer...

- Samantha...? Tudo bem como você?

Olhando para o lado, ainda absorta, ela percebeu que ele estava ali, bem ali, olhando-a intrigado e com um início de riso no rosto.

- Tive a impressão de que você queria falar comigo - ele disse, sentando-se próximo e passando a mão pelos cabelos molhados - Estava me olhando, mas quando chamei você, parecia não me ouvir.

Ele riu, e o estômago dela revirou.

- Então...? Quer me dizer alguma coisa?

Engolindo seco e pegando rapidamente a mochila, Samantha foi dizendo:

- Na verdade não, eu... Acho que estava apenas pensando. Você estava ali, e eu devo ter parecido olhar para você, mas... Não. Eu tenho que ir. A gente se vê!
Imagem: http://jovensfeparanacoes.blogspot.com.br/

E saiu, sabendo que mais alguns minutos perto dele e seu rosto estaria mais vermelho que o que de mais vermelho há nesse mundo.


Enquanto ela andava, os passos largos e os cabelos ao vento, só o que ele pensava era em como gostaria que ela lhe dissesse algo que se assemelhasse ao que ele, há muito, sentia..

- Bia