Ela pensava na vida. Parada à frente da TV
sem som, ela pensava em todas as coisas pelas quais já tinha passado nesses
poucos, mas duros, anos de existência. E mais, pensava no lhe
aguardaria na virada da próxima esquina.
Tinha sido uma garota exemplar. Um exemplo
de tudo aquilo que é condenado e abominado pela sociedade pré-conceituosa e desprovida
de raciocínio. Ela tinha passado pelos piores momentos imagináveis, sempre de cabeça em pé e deixando apenas que seu travesseiro sentisse
as lágrimas quentes de seus pequenos olhos azuis. Havia provado o amargo
do mundo, sem deixar de expressar palavras doces a cada espinho que
lhe atiravam.
Tinha sido forte. Como uma rocha, havia
aguentado as tempestades de palavras, os trovões de opiniões, os ventos da
discórdia. Permanecera firme, concreta, belamente intacta.
Mas seu espelho interior começava a
rachar. Tantas batidas no casco visível de sua pele haviam criado pequenos
buracos, imperceptíveis aos olhos nus e crus, mas que aos poucos começavam a
deixar a água ardente infiltrar na alma calejada.
Naquele momento, ela não sabia o que
fazer. Para onde ir.
O que sentir.
Sentia que a cada alargamento da
infiltração, mais vazia se encontrava a sua cápsula de vida.
O futuro não mais lhe pertencia. Nem mesmo
um amigo distante poderia considerá-lo. Não o conhecia. Não sabia de sua
existência. Ignorava-o como se ignora o que há fora daenossa bela e estrelada
galáxia.
Tinha o passado como seu único trunfo. E
de mãos dadas com ele, deixou para trás a programação sem sentido da
televisão e virou a esquina do desconhecido.
Bia
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