quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

(Prólogo)

O calor está de matar...

Ela voltava para casa a pé, suando em bicas e não conseguia deixar de pensar naquela letra de funk que, nos dias de hoje, não poderia ser mais propícia.

Seu telefone tocou e ela o puxou do bolso, limpando as gotículas de suor do visor para poder atendê-lo.

- Alô?

- Quem é?

Ela quase respondeu "Sou eu, Bola de Fogo", mas achou melhor se calar.

- É a Ana. Gostaria de falar com quem?

- Com você mesma, Ana! Aqui é o Beto. Alberto, lá de Paraty. Lembra de mim?

Ela se lembrava perfeitamente. O passeio de escuna, a parada na Praia Vermelha. O mergulho nos corais, o beijo debaixo d'água.

- Oi!!! Nossa... Claro, Beto. Nem pensei que...

- Pois é... Eu queria ter ligado antes, mas confesso que perdi o seu número. Lembra que eu tinha anotado num...

- Guardanapo de papel sujo. Sim, eu me lembro.

Ela riu da lembrança. Um guardanapo com cheiro de camarão com limão.

- Então... Eu meio que o perdi. Ou joguei fora, na verdade. Custei a perceber a burrada, mas então me lembrei que você tinha se hospedado numa pousada próximo do centro e eu meio que consegui seu celular.

O pensamento dela estava em Paraty, algumas semanas antes. Ela estava a passeio, com algumas amigas próximas. Não tinha intenção alguma de se envolver com ninguém, mas como sempre acontecia de o acaso ser maior e mais marcante em sua vida...

- Mas e você, Beto? Está tudo bem?

- Agora estou ótimo, que consegui falar com você. Você está em Minas? BH?

- Estou sim. Derretendo.

Ela percebeu que havia parado no meio de uma praça, e o sol do meio dia lhe torrava os miolos. Passando as costas da mão sobre a testa, ela se encaminhou para um banco debaixo de uma árvore e se sentou.

- ... sempre um inferno. Mas, que bom que está em BH. Bem, é que, coincidência ou não, uns amigos estão indo visitar os pais e eu pensei que, talvez...

- Quando é que você vem? - ela se pegou falando, as palavras escapando de sua boca mais rápido do que ela conseguia controlar. Ouviu a risada - aquela risada gostosa e gutural - de Beto do outro lado da linha.

- Daqui a dois dias... Seria incômodo se pudéssemos nos encontrar?

Ela sorriu e soltou um grito silencioso, mímico, que fez uma mãe e uma criança de uns cinco anos a olharem com olhos reprovadores e curiosos, respectivamente.

- Não. Eu adoraria.

(continua...)
*** 

- Bia


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