A poltrona estava afundando. Sempre
afundava mais para a esquerda do que para a direita. Com os pés descalços sobre
o estofado, ela balançava o corpo suavemente, num ritmo constante e monótono.
Sempre balançava assim.
Betânia se achava aninhada em
seus braços. Bonequinha ruiva, olhinhos pequenos, um azul, outro preto. De
caneta Bic. Era uma bonequinha boa, ela dizia. Cheia de vontades que só, mas
boa. Obedecia depois de três insistências. Sempre após a terceira.
Ela, hoje, estava mais quieta. Olhava
Betânia de soslaio, meio receosa. Balançava-se suave, e olhava para o outro
lado. Para o mundo. Ela o via, com olhos curiosamente entediados. Sempre
entediados.
Mas nunca viam o mundo.
Demorou instantes eternos para retornar a Betânia. O balanço do corpo se fazia constante, enquanto ela acariciava de leve os cabelinhos cor de fogo da bonequinha. Sempre tão lindos.
Mas nunca viam o mundo.
Demorou instantes eternos para retornar a Betânia. O balanço do corpo se fazia constante, enquanto ela acariciava de leve os cabelinhos cor de fogo da bonequinha. Sempre tão lindos.
Num só movimento, a cabecinha de Betânia
rolou pelo chão, parando apenas ao encontrar a parede oposta à poltrona. Ela
olhou-a sem tempo, como se pensasse em pegá-la de volta, e tornou a encarar o
mundo. Um corpo sem cabeça era muito chato.
Sempre soube disso.
- Bia
- Bia
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