Sentia tristeza. A chuva que caía dos seus olhos se misturava às lágrimas soltas das nuvens cinzas e grossas de um dia de outono.
Outono... A estação da queda, das folhas secas, do pré-frio que indica o próximo tempo. Ainda era outono e o seu coração se achava mais frio do que lábios de uma Branca de Neve.
A chuva dos olhos lhe molhava o rosto e lhe trazia um gosto quente e salobre, gosto do beijo amargo e da vida seca que a poucos, mas tantos, dias sobrevivera.
O resto do corpo banhava-se em lágrimas frias de um céu trovejante. Luzes e sons dançavam à sua frente uma coreografia digna de deuses furiosos e igualmente tristes.
Abraçou com destreza os joelhos, cobertos de um jeans surrado e velho, mas que lhe causava calor à lembrança de ter sido um presente. Agora, não mais que um jeans, mas que ainda emanava uma centelha do amor de um passado recente.
Olhou para cima e cegou-se ante o encontro das duas fontes. Lágrimas e chuva formaram um único borrão, lavando sua alma como quem permite-se entrar numa máquina de lavar. Suas íris tornaram-se bolinhas de gude, rolando para dentro daquele corpo cheio de um vazio existencial momentâneo.
E então ela se sentiu menina outra vez. Menina dos olhos, menina dos olhos dourados, que quando o inverno chegasse - a força permitiu-se manifestar em seu peito - tornaria a reluzir como sol daquele entardecer outonal que ela sabia chamar de seu.
- FdLind
Imagem: http://witchblue2009.blogspot.com.br/2011/07/mitologia-em-gotasiris-deusa-mensageira.html
Imagem: http://witchblue2009.blogspot.com.br/2011/07/mitologia-em-gotasiris-deusa-mensageira.html
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